quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Anjos e Demônios

Texto para a turma de Criação Literária:


   Então Ozam, meu professor de Kabbalah, nos pede para colocar os nomes de três séfiras, colocamos, ele explica o que significa. Ao saber que as minhas denotam um nível consciencial superior percebo que um brilho diferente percorre os olhos do outro aluno, encontro ali o demônio da inveja. Tal situação não passa despercebida ao professor que, com calma e ponderação, explica na prática o que as escolhas significam e acalma os ânimos. Ali estava o anjo do equilíbrio.

   Conversando com uma das enfermeiras de minha avó, que luta severamente contra a balança, enquanto preparava o almoço, notei que ela estava profundamente ansiosa, pedi a ela que bebesse água, que é alimento para o corpo emocional e ajuda em seu equilíbrio. Mas na hora do almoço percebi que ela comia muito rápido e lhe chamei atenção.        Em seus olhos percebi o brilho do demônio da gula, mas lhe falei de novos hábitos alimentares, inspirada pelo anjo da persistência.
   Uma conhecida, desejosa de participar de um importante evento, lamuriava-se do quanto isto implicaria em gastos, seus olhos denunciavam o demônio da avareza, lhes explicamos que de vez em quando presentear-se é bom, é importante fazer-se agrados, estávamos inspirados pelo anjo da compaixão.
   Quando conversávamos com um estudante de música que recém saíra de uma audição e que precisava melhorar muito sua digitação, seu dedilhado na guitarra, percebemos que ele achara sua atuação superior ao que fora, ele estava incorporado do demônio do orgulho. Com muita delicadeza lhe explicamos a necessidade de treinar mais horas por semana para realmente chegar ao patamar que ele imaginava estar. Tivemos a orientação do anjo da sensibilidade.
   Contava ao Ozam que havia descoberto um furto de objetos preciosos de uma pessoa da família e fui tomada pelo demônio da ira. Queria trucidar, gudunhar, socar as pessoas que haviam feito aquilo, fazer com que fossem descobertas e pagassem pelo que fizeram. Ozam incitado pelo demônio do sossego, apaziguou minhas emoções.   
   Explicou então que todos os sentimentos, os que achamos negativos, são bons, eles nos dão movimento. E explicou, sua ira por exemplo, ela te coloca em estado de alerta, vai te fazer tomar providências para que nada mais seja furtado. E, ao invés de reagir de maneira violenta contra quem te aprontou, reagirás de maneira inteligente a isto, colocarás trancas a tua porta. Fomos falando de nossos anjos e demônios quando citei o exemplo de uma pessoa muito preguiçosa e lhe perguntei quem seria o demônio da preguiça. Ri horrores quando ele me respondeu. “Ah minha filha, o demônio é astuto, esperto e muito ágil. O preguiçoso não tem demônio não, porque com sua preguiça ele tenta até o demônio.”